segunda-feira, 29 de junho de 2009


O BICHO

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.

Manuel Bandeira. Estrela da Vida Inteira.

Dói. É algo desolador e chocante a situação em que milhares de crianças vivem ao redor do mundo. Só no Brasil, 16 crianças e adolescentes são assassinados por dia. As organizações internacionais classificam esse dado como “genocídio”. As causas são muitas, os responsáveis inúmeros e as soluções apresentadas quase nulas. Quando se trata de mortandade infantil, palavras como violência e fome são apenas elementos de um conjunto que podemos denominar de “péssimas condições de vida”. As razões que culminam para esse absurdo número diário de mortes existem e não são poucas, mas é difícil tomarmos providências e até identificar os vilões da história. Seriam as famílias que têm inúmeros filhos ou nossas crianças que, devido à mídia, estão agindo de forma errada? Conclusões estapafúrdias como essas, acreditem, existem!
É mais fácil culpar diversas instâncias paralelas ao Estado do que colocar o dedo na cara de uma figura abstrata. Afinal, o Estado e seus poderes estão aí eleitos por nós, portanto também temos uma parcela de culpa. Por outro lado, eles recebem para, entre outras coisas, prover saúde, educação, moradia e cultura para todos os brasileiros, desde pimpolhos até se tornarem simpáticos velhinhos.
Contudo, salvar a fauna do Brasil é importante, mas nossas crianças, tão aclamadas como “futuro da nação”, também merecem atenção igual ou em maior número. Elas também precisam de carinho e cuidados especiais para se desenvolverem e alçarem vôos bem sucedidos. Enquanto os governantes e a população se manterem inertes e insensíveis quanto aos problemas que afligem os brasileiros nada vai mudar.
Não é um questão de “cada macaco no seu galho”. Isto é questão social! Que deve preocupar a toda uma população. Caso contrário, o futuro será repleto de flores, tartarugas marinhas e ursos panda, mas, e a RAÇA HUMANA?