domingo, 29 de janeiro de 2012
Ariès e o curso da disciplina no ambiente escolar
terça-feira, 12 de julho de 2011
VIOLÊNCIA & MÍDIA: O discurso e seus efeitos¹
¹Este é um "compacto" do artigo originalmente feito como trabalho de conclusão da disciplina Sociologia da Violência na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
INTRODUÇÃO
Objeto de atenção de sociólogos, psicólogos e cientistas políticos, a violência lhes desperta o desejo de compreender sua ampliação nos mais diversos campos da atividade humana. Dificultando sua compreensão, a violência muda de fisionomia e de escala de acordo com a maneira pela qual os mesmos fatos são apreendidos e julgados. Há, portanto, uma necessidade de definição e/ou classificação da violência.
Nem mesmo os cientistas sociais escapam de tais dificuldades e dilemas da dificuldade na definição do que é violência e de que violência se fala. Violência vem do latim violentia, que remete a vis (força, vigor, emprego de força física). Assim, esta força torna-se violência quando ultrapassa um limite ou perturba acordos e regras que ordenam relações, podendo adquirir uma carga negativa. Portanto, é a percepção do limite e da perturbação que vai caracterizar um ato como violento, percepção esta que varia cultural e historicamente.
Para Porto (2002), “a violência deve ser identificada de forma múltipla, diferenciada, e não pode ser analisada independentemente do campo social no qual se insere. Se muda a natureza do campo social, mudam igualmente as formas de manifestação da violência...” (p.170).
Em outra análise, para Yves Michaud (1989), “há violência quando, numa situação de interação um ou vários atores agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ou mais pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas participações simbólicas e culturais” (p.11).
Nesta direção, para abordarmos a discussão sobre violência simbólica, escolho por destacar o conceito de Aranha e Martins (1998), onde as autoras afirmam que “constitui violência simbólica toda manipulação ideológica que obriga a adesão sem críticas das consciências e das vontades de modo que o indivíduo acredita estar pensando de agindo por livre vontade (...) a violência existe, mas de forma disfarçada” (p.187).
A partir destas reflexões, podemos ver o discurso como fonte da violência. Desse modo, é possível verificar em que medida os registros populares se mostram eficientes para a expressão exacerbada da violência.
De modo geral, os holofotes midiáticos focam-se sobre a violência concentrada na criminalidade e seus efeitos, os quais deixam visíveis os danos materiais e físicos. De acordo com Michaud, é relevante observar que as imagens de violência, dado o grau de recorrência, contribuem para a sua banalização, tornando-a normal e integrada ao cotidiano do leitor. Assim, o fato da violência se apresentar como desvio de estados tidos como normais, garante-lhe um lugar efetivo na mídia.
Enfim, não há como negar que vivemos numa época de exaltação da violência. (Aranha e Martins, 1998).
A REVOLUÇÃO CIENTÍFICO-TECNOLÓGICA E O DISCURSO DA VIOLÊNCIA NO JORNALISMO POPULAR
Pensar o conceito de meios de comunicação de massa, a partir de Porto (2002), baseia-se em propor uma relação do mesmo à luz das novas tecnologias de comunicação e de informação. Através deste processo, foram introduzidas milhões de pessoas neste ambiente transformador e inovador, provocando, por fim, uma verdadeira revolução científico-tecnológica.
Contudo, como tais transformações afetam ou se relacionam com o fenômeno da violência?
Em La violence apprivoisée, Michaud afirma que “a violência, na mídia, seja ela estilizada ou não, seja ficção ou parte dos telejornais da atualidade serve, de certa maneira, a um descarregar-se, distender-se, dar livre curso aos sentimentos através do espetáculo. As cenas de violência são um sintoma da ‘nervosidade’ da sociedade” (p.136).
Portanto, os meios de comunicação de massa se não são diretamente responsáveis pelo aumento da violência e da criminalidade, são um canal de estruturação de sociabilidades violentas. Sendo que, a observação constante da violência, banaliza o ato, e por fim, potencializa, “excita” o indivíduo à agressão. Logo, a própria violência pode ser o conteúdo e o substrato das representações sociais.
Além disso, os meios eletrônicos ao mesmo compasso em que possibilitam a velocidade da informação após o acontecimento de um determinado fato, poupam os indivíduos, intermediando alguns de seus contatos com o mundo, o que potencializa o que Porto chama de “encolhimento do mundo”. Ou seja, de certa maneira seria o mundo virtual construindo o real (p. 163). Por outro lado, esses meios também transformam o real em espetáculo. É o que ocorre com o fenômeno da violência. Isto é, o fenômeno é transformado em produto, detém um amplo poder de venda no mercado de informação, além de ser um objeto de consumo, fazendo com que a realidade da violência torna-se cotidiana mesmo daqueles que nunca a confrontaram diretamente. Assim, a violência passa a ser consumida num processo dinâmico, onde o consumo participa do seu processo de produção, ainda que como representação. Por conseqüência, os meios funcionam como um tipo de tribunal do júri, dando o tom em termos da condenação ou absolvição de um suspeito, por exemplo.
Em suma, entende-se que é possível tornar as palavras, as narrativas veiculadas pela mídia, instrumentos de ação e não apenas de comunicação.
Além disso, Michaud nos alerta que
“estudos recentes reconhecem, em laboratório, uma correlação entre observação da violência e agressão. Os estudos em meio real são menos significativos. Mas não há dúvida de que as imagens da violência contribuem de modo não desprezível para mostrá-la como mais normal, menos terrível do que ela é, em suma: banal, criando, assim, um hiato entre a experiência anestesiada e as provas da realidade, raras, mas muito fortes” (1989, p.51).
Em seguida, conclui o autor, se “a experiência contemporânea da violência passa pelas imagens, tal experiência só pode ser suavizada e banalizada” (1989, p.51).
Embora a sociedade brasileira tem-se revelado mais exigente e pronta a reivindicar o fim da impunidade e a vigência de padrões mais solidários de relações e interações sociais, em sentindo contrário às reiteradas manifestações de violência, observa-se uma crescente mobilização da sociedade civil em prol da não-violência.
Por fim, nessas sociedades, a comunicação e a informação estão organizadas empresarialmente, com as conseqüências daí decorrentes, em termos de mercado. Neste sentido, como toda mercadoria que vende bem, a violência torna-se uma moeda com alto poder de troca (PORTO, p. 163).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. São Paulo: Ed. Moderna, 1998.
DIAS, Ana Rosa Ferreira. O Discurso da Violência – as marcas na oralidade no jornalismo popular. São Paulo: USP (Tese de Doutorado), 2003.
MICHAUD, Yves. A violência. São Paulo: Ed. Ática, 1989.
PORTO, Maria Stela Grossi. Violência e meios de comunicação de massa na sociedade contemporânea. Porto Alegre, 2002.
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Obama & Osama
terça-feira, 3 de maio de 2011
O que os anos 90 nos tirou...
"Quanto mais eu me esforço, mais eu me encontro. Eu estou sempre olhando um passo à frente, um diferente mundo para entrar, lugares onde eu nunca estive antes. É muito solitário pilotar num GP, mas muito cativante. Eu senti novas sensações e eu quero mais. Essa é a minha excitação, minha motivação."
"Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo."
As lembranças, sem dúvidas, sempre serão belas.
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Fala Shakespeare...
"Quando a hora dobra em triste e tardo toque
E em noite horrenda vejo escoar-se o dia,
Quando vejo esvair-se a violeta, ou que
A prata a preta têmpora assedia;
Quando vejo sem folha o tronco antigo
Que ao rebanho estendia sombra franca
E em feixe atado agora o verde trigo
Seguir o carro, a barba hirsuta e branca;
Sobre tua beleza então questiono
Que há de sofrer do Tempo a dura prova,
Pois as graças do mundo em abandono
Morrem ao ver nascendo a graça nova.
Contra a foice do Tempo é vão combate,
Salvo a prole, que o enfrenta se te abate."
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Carta Aberta a Marina Silva
Marina,... você se pintou?
Maurício Abdalla [1]
“Marina, morena Marina, você se pintou” – diz a canção de Caymmi. Mas é provável, Marina, que pintaram você. Era a candidata ideal: mulher, militante, ecológica e socialmente comprometida com o “grito da Terra e o grito dos pobres”, como diz Leonardo.
Dizem que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o que é certo neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças surreais e de pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira pedra no que diz respeito a escolhas partidárias?
Mas ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar. Não pela causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo fato de que as verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não interessam aos financiadores de campanha, às elites e aos seus meios de comunicação. A batalha não era para ser sua. Era de Dilma contra Serra. Do governo Lula contra o governo do PSDB/DEM. Assim decidiram as “famiglias” que controlam a informação no país. E elas não só decidiram quem iria duelar, mas também quiseram definir o vencedor. O Estadão dixit: Serra deve ser eleito.
Mas a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM estava fazendo água. O povo insistia em confirmar não a sua preferência por Dilma, mas seu apreço pelo Lula. O que, é claro, se revertia em intenção de voto em sua candidata. Mas “os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz”. Sacaram da manga um ás escondido. Usar a Marina como trampolim para levar o tucano para o segundo turno e ganhar tempo para a guerra suja.
Marina, você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul. “Azul tucano”. Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua luta junto aos seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos grandes meios de comunicação. A Globo nunca esteve ao seu lado. A Veja, a FSP, o Estadão jamais se preocuparam com a ecologia profunda. Eles sempre foram, e ainda são, seus e nossos inimigos viscerais.
Mas a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia não cansa de propagar a “vitória da Marina”. Não aceite esse presente de grego. Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua luta e contra quem ela se dirige.
“Marina, você faça tudo, mas faça o favor”: não deixe que a pintem de azul tucano. Sua história não permite isso. E não deixe que seus eleitores se iludam acreditando que você está mais perto de Serra do que de Dilma. Que não pensem que sua luta pode torná-la neutra ou que pensem que para você “tanto faz”. Que os percalços e dificuldades que você teve no Governo Lula não a façam esquecer os 8 anos de FHC e os 500 anos de domínio absoluto da Casagrande no país cuja maioria vive na senzala. Não deixe que pintem “esse rosto que o povo gosta, que gosta e é só dele”.
Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas Serra o é de nossos mais terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não precisa dos paparicos da elite brasileira e de seus meios de comunicação. “Marina, você já é bonita com o que Deus lhe deu”.
[1] Professor de filosofia da UFES, autor de Iara e a Arca da Filosofia (Mercuryo Jovem), dentre outros. ES
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
O Lado Oposto divulga:
Este blog surge, principalmente, da necessidade de criar um espaço de debates para a compreensão das temáticas discutidas pelo Grupo de Estudos Ciências Sociais e Artes, vinculado ao NEI – Núcleo de Estudos e Pesquisas Indiciárias/UFES, coordenado pelo professor Claudio Marcio Coelho.
Discutimos conceitos-chaves como Estética, Semiótica e Indiciarismo a partir do diálogo das Ciências Sociais com as Artes: fotografia, música, literatura, cinema, teatro, quadrinhos e arte digital. Essas temáticas buscam uma abordagem compreensiva dos diálogos e interfaces entre a Teoria Social e a Teoria da Arte.
O material publicado tem por objetivo promover a interação com os leitores e, por conseguinte, estimular comentários, críticas e sugestões, que contribuam para o aprimoramento das interpretações fomentadas nessa mídia.
Nosso grupo é formado por editores que gerenciam as seguintes áreas: Artes plásticas e visuais (Matheus Mariani), Cinema (Pedro Lukas Trindade), Cultura Popular (Clara Crizio), Literatura e Teatro (Pedro Pulino), Música (Hellen Cardoso) e Quadrinhos (Luciano Menezes).
Os integrantes de nosso grupo compartilham de um interesse comum: a arte e suas manifestações sociais. Eis o nosso gozo! Pesquisar, discutir e experenciar a arte…